Estilo Possível #15: Tá todo mundo bem aí?
Pensamentos aleatórios sobre dissociação e o figurino da série Sequestro no Ar
Tem dias que fico meio em suspensão. Nem sei direito porque.
Leio as notícias sem envolvimento algum. Os juros baixando, reforma tributária, violência escalando, apps de relacionamento com IAs, Brasil perdeu a copa de novo. Zero comoção, tudo mais ou menos. Mais ou menos é melhor que ruim, né? Acho que deveria ser.
Agora há pouco, uma amiga compartilhou um post do WGSN com o qual me identifiquei demais: um dos sentimentos-chave para os próximos anos é a dissociação. Segundo o texto, esse é um processo mental em que a pessoa se desconecta dos seus sentimentos, pensamentos, memória e senso de identidade. Isso se manifesta nesses momentos em que a gente se distrai e, por exemplo, não desce no ponto de ônibus certo, esquece se passou no sinal verde ou no vermelho ou mesmo pra onde tá indo e porque. Já aconteceu com você?
Comigo já.
Aliás, acabou de acontecer. De repente, eu tava lendo uma crítica, fui ver o Instagram, vi o post do WGSN, aí comecei a escrever aqui e nem era mais sobre o que eu ia falar inicialmente. A news dessa era pra ser inteira sobre a série Sequestro no Ar, com o Idris Elba, assunto sobre o qual eu tava lendo inicialmente.
Aí virou isso aqui, um texto sobre como a gente tá distraído e meio destrambelhado das ideias. As horas parada em frente a uma tela consumindo informação atrás de informação parece que tão cobrando o preço.
Existe uma teoria chamada de “economia da atenção", que basicamente trata a nossa concentração como uma matéria-prima escassa e discute como ela é afetada pela quantidade excessiva de conteúdos e informações com os quais somos impactados todos os dias. Isso influencia muito nessa sensação de eterna ansiedade, stress e desânimo que muitos têm sentido ultimamente.
Não tenho nenhuma conclusão genial pra fechar esse assunto. Só fui escrevendo mesmo porque foi o que acabei de sentir e viver, acho que alguém vai se identificar.
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E já que nada tá fazendo muito sentido hoje, agora vou seguir falando de Sequestro no Ar, da Apple TV+. Falamos sobre a série no Podcast Wanda na semana passada e fiquei completamente viciada. Maratonei cinco episódios em um dia (alô, excesso de consumo de informação!).
Desde o final de Succession eu andava em busca de uma boa série pra assistir. O tema é, obviamente, sobre o sequestro de um avião comercial com cerca de duzentos passageiros que está indo de Dubai para Londres. A bordo está o lindo do Idris Elba e sua sacolinha da Gucci. Ele interpreta Sam Nelson, um negociador corporativo que tá voltando pra Londres pra tentar consertar seu casamento com Marsha.
O avião é sequestrado e aí o Sam vai lá usar de toda a sua lábia para tentar convencer os seqüestradores a serem mais razoáveis. Não vou entrar em muito mais detalhes pra evitar spoilers, mas uma coisa que adorei foi observar o figurino da série.
Qualquer um que acessa frequentemente as redes sociais já deve ter se deparado com a hashtag #aerolook, usada por pessoas que vão viajar e querem mostrar seus looks confortáveis, porém elegantes. Sequestro no Ar é um prato cheio pra analisar os visuais dos passageiros e seus significados ocultos.
Viajantes da classe executiva e seus ternos, pais cansados, atletas entre competições, turistas empolgados, bad boys, uma viajante a lá Edna Modas… Nas roupas de cada personagem, a figurinista Colleen Morris consegue traduzir com maestria o panorama social das viagens aéreas atuais.
Uma coisa muito simples de observar é que as cores na classe econômica são muito mais vibrantes que na primeira classe. O líder dos seqüestradores que tá na primeira classe, por exemplo, veste um moletom cinzento, enquanto o sequestrador no fundão do avião usa uma camisa havaiana. Outra coisa é que, como a série se passa em tempo real, cada figurino precisava ter a afinação perfeita porque seria o único figurino usado pelo personagem durante a série inteira.
O personagem do Idris Elba, como um bom representante da primeira classe, veste um figurino em cores neutras e cheio de camadas. Ele entra no vôo com uma jaqueta de linho cru Ermenegildo Zegna, que logo é retirada, mostrando uma polo verde musgo de mangas longas da marca britânica Sunspel. Detalhe é que ele leva uma sacolinha da Gucci com um bracelete, numa tentativa de salvar o casamento, que combina perfeitamente com a polo.
Enfim, uma série frenética, que dá frio na barriga, super equilibrada com um figurino reconfortante, em que cada detalhe tá no lugar. Assista.
A news #15 acaba de entrar na minha caixa de e-mail e geralmente sempre deixo pra ler no finalzinho do dia pós trabalho. Mas quis ler agora.
E juro, ME IDENTIFIQUEI MUITO! No final vc ainda colocou "acho que alguém vai se identificar" claramente sou essa pessoa, mas tenho certeza que terão outras.
Estava aqui pensativa sobre tudo sabe? E principalmente sobre como tenho lidado com algumas situações na minha vida. Acabo de me desligar de um emprego para ir pra outro que é o que sempre gostei de fazer. E por conta dessa mudança vou precisar resolver algumas burocracias e tal, e tive uma conversa tão pesada com a minha "antiga" gestão que penso: como que aguentei ficar aqui durante esse tempo, sabe? Por isso sentia minha energia e meus dias tão "mais ou menos".
Seu texto veio como um abraço em meio a esse caos que tá minha cabeça e os meus dias.
Por aqui os dias estão meio sei lá, mas preferia que estivesse bem ou mal, assim eu teria certeza de como estaria me sentindo de fato.
Espero que por aí isso também aconteça.
Beijos e bom restinho de semana! 💫