É bem possível que qualquer um que tenha acompanhado notícias de tecnologia e mesmo as redes sociais ultimamente tenha topado com alguma postagem sobre inteligência artificial. Seja a imagem do papa usando uma puffer jacket ou do Trump sendo preso, você certamente foi impactado por esse assunto.
Por mais que a gente nem entenda direito o que é, de onde vem e onde isso vai parar, a inteligência artificial ou, mais especificamente, a IA generativa é uma realidade que parece ter vindo para ficar.
Alguns de vocês devem ter ouvido falar do chat GPT da Microsoft, que gera um texto sofisticado a partir de perguntas ou comando que você peça para ele. Tem também Dall-E faz o mesmo com imagens e muitas delas têm aparecido em nossos feeds do Instagram ultimamente, pelo simples fato de que as pessoas gostam de brincar com essa tecnologia.
Mas o que é essa tal de IA generativa? Qual o potencial e seu potencial transformador dessa tecnologia para a moda e pra toda a indústria criativa?
Depois de ter ido ao South by Southwest mês passado e acompanhado várias conversas sobre isso, percebi que, apesar desse ser o grande tema do ano, ainda gera muito questionamentos muito básicos. Então, vamos começar pelo começo:
O que é inteligência artificial, principalmente a inteligência artificial GENERATIVA, e por que as pessoas tão falando disso atualmente?
Bom, tem milhares de definições pra inteligência artificial, mas vou focar em uma que tem mais a ver com o que tá sendo exposto pra gente agora que são as IAs que geram textos e imagens.
Um conceito genérico é que inteligência artificial é a simulação da inteligência humana, mas processada por máquinas, especialmente, por computadores.
A mais famosa atualmente é o chat GPT, que basicamente é um site em formato de chat. E quando você pergunta algo ou dá algum comando por texto, ele fornece informações ou cria textos com base no que você pediu. Então, por exemplo, se você pedir pra ele escrever um texto jornalístico sobre a ultima coleção da Gucci, ele vai te entregar exatamente isso - apesar de, nesse caso, não trazer informações tão precisas.
Exemplo de comando pedido ao chat GPT
Essa criação de conteúdo não acontece só em texto, um outro exemplo é o Dall-E, um sistema que gera imagens super realistas a partir de uma descrição de linguagem. Nesse caso, é possível fazer o upload de uma foto e pedir para a IA fazer alterações, por exemplo, “coloque uma jaqueta amarela e um capuz nessa pessoa da foto".
Meus dotes limitadíssimos no DALL-E:
Então, esse tipo de inteligência artificial é sempre baseado num comando humano pra ser criado. Só que são comandos relativamente fáceis, qualquer um consegue usar e acredito que esse é um dos principais motivos pelos qual as discussões a respeito desse tema terem crescido. Outro motivo é que as maiores empresas de tecnologia da atualidade mergulharam de cabeça na busca por integrar esse tecnologia em suas plataformas.
Um ótimo exemplo é a Microsoft que é a maior investidora da Open AI, empresa que criou o chat GPT e o Dall-E. Apesar da gente usar muito coisas da Microsoft como o pacote Office, que tem Word e Excel, e até o LinkedIn, ela é uma empresa que andava meio abaixo do radar em termos de redes sociais ou de buscas, por exemplo. A Microsoft é dona do Bing, um buscador que não era muito usado, mas que agora integrou o chat GPT no seu sistema de busca e viu os acessos se multiplicarem.
Agora, puxando aqui pra um tema que eu gosto: o que o uso da inteligência artificial significa para a indústria da moda?
Ultimamente tem aparecido várias imagens de moda nas redes sociais, como looks de desfiles (inclusive já existe uma semana de moda desse nicho) e fotos de street style que foram geradas por inteligência artificial.
Esse é um tipo de uso possível, mas do ponto de vista do mercado, o que já tem acontecido é que empresas de fast fashion, que já não são necessariamente famosas por sua criatividade, tornarem tudo ainda mais automatizado. Pra essas empresas vai ser possível reproduzir ainda mais rápido os estilos e tendências da vez, criar as imagens das peças que querem produzir e levar isso pra linha de produção, tornando tudo ainda mais massificado.
Outro ponto sensível são os empregos, muito se fala por aí sobre como a inteligência artificial representa um perigo o pra profissionais que trabalham em áreas criativas. Aliás, um dos motivos pelo qual decidi escrever esse texto foi esse artigo do Business of Fashion:
O artigo começa citando o caso da Levi's, que recentemente enfrentou uma onda de críticas porque decidiu usar modelos gerados por inteligência artificial em seu site. A promessa da marca é que assim, os compradores podem se identificar com mais facilidade com “avatares com corpos inclusivos” e com modelos hiperrealistas com diversos tons de pele, idades, alturas e tipos físicos.
Mas será que isso não seria evitar trabalhar para promover a diversidade na prática? Será que não seria mais simples apenas contratar modelos diversos, que existem e que precisam de trabalhar?
A maioria das empresas de moda já utilizam alguma forma de inteligência artificial em seus serviços, seja na parte de logística ou no SAC. Atualmente, ainda de acordo com o BoF, trabalhos nas áreas de marketing, jornalismo, merchandising, design e criação de conteúdo correm sérios riscos de sofrer mudanças tanto no número de empregos disponíveis quanto na “natureza de como os trabalhos são executados”.
Então, com toda certeza, nesse exato momento, já tem alguém pesquisando encontrando novas maneiras de otimizar a produção fazer mais dinheiro com essa tecnologia. A questão é só quando esses novos modos vão ser implementados.
Agora, quais o perigos disso?
Olha, essa própria questão dos empregos já é um perigo em potencial. Desde a revolução industrial, as pessoas falam que as máquinas iam substituir o trabalho humano. E o argumento principal das pessoas que trabalham no desenvolvimento de inteligência artificial é que os trabalhos não vão desaparece, apenas mudar.
A grande questão é que essas mudanças tem custos muito sérios pra vida práticas pessoas, principalmente com o aumento da população. Existe uma estimativa de que cerca de 300 milhões de empregos podem ser impactados pela transformações trazidas pela adoção a inteligência artificial no dia a dia das empresas e isso por si só já é assustador.
Mas, o que mais me assusta agora são os deep fakes, uma técnica que utiliza recursos de inteligência artificial para substituir rostos em vídeos e imagens, imitando a voz e distorcendo o conteúdo das falas originais. Isso significa que qualquer um com acesso à essa tecnologia pode criar um vídeo seu, com seu rosto e voz, dizendo absurdos.
A doideira é tanta que ontem precisei pesquisar em umas dez fontes diferentes pra entender realmente o Trump tinha sido preso, já que há poucas semanas a imagem falsa dele sendo preso tinha circulado por aí. Então, pode ter certeza de que a gente vai ver muitas consequências do mal uso dessas tecnologias por aí e que os impactos políticos disso vão ser os mais bizarros possíveis.